Luz no fim do túnel ou o trem em sua direção?

18/08/2012 0 Por Dudu

Essa semana eu presenciei a maior cena de racismo e preconceito de minha existência, obviamente que já havia presenciado outras, mas não tão explicita e agressiva como esta que narrarei a seguir:
Pego o metrô pela manhã para me encaminhar ao trabalho (horário de pico), na linha vermelha na estação Vila Matilde onde se situa minha residência, quem já vivenciou esta experiência digamos que “extremista” (poderia usar o adjetivo “desumano”, mas geralmente tudo que é desumano é culpa deles próprios, humanos), sabe do que estou falando.
Utilizar o metrô na linha vermelha em horário de pico é extremamente desagradável, pois se presencia: superlotação, falta de educação, falta de respeito, falta de inteligência, arrogância, ignorância, brutalidade, egoísmo, entre outros adjetivos do pior lado do homem.
Entrei no metrô e o mesmo não estava nos seus “piores” dias, estava cheio mas não ao extremo como costuma estar neste horário, devido à lotação, fiquei no meio, sem conseguir ir para o corredor, chegando na estação Tatuapé, uma estação onde a plataforma em que entram as pessoas é no lado oposto das demais estações desta linha, com isso o fluxo de pessoas que entram no metrô é um pouco maior por não ter tanta obstrução na porta (pratica comum de um povo pobre de espírito, pensar somente em si, não dando importância para a logística dentro do meio de transporte, eu já entrei, porque irei para o corredor para facilitar quem ainda entrará ?) entraram muitas pessoas.
Uma fêmea (sim fêmea é exatamente a denominação que o ser merece, sem machismo, pois os “machos” fazem a mesma coisa) que estava atrás de mim e não sei dizer se já estava no metrô ou se entrou também na estação Tatuapé, no meio daquele alvoroço e daquele empurra-empurra, começou a balbuciar e praguejar:
– Nordestinos do caralho, cambada de filhos da puta, ignorantes e fedidos, puta que pariu viu.
A fêmea estava praticamente no meu ouvido, colada em minhas costas e um pouco para o lado (motivo pelo qual pude ouvir a mesma balbuciando).
Segundos depois que ela praguejou, um homem que estava na porta e não ouviu, comentou com seu amigo amistosamente:
– Essa é a vida de um trabalhador.
A fêmea ao ouvir isso e não satisfeita com as pragas rogadas inicialmente, reforçou:
– Trabalhador uma porra, tem que morrer todos esses baianos, raça miserável, nordestino tem que ir tudo pro inferno esses filhos da puta que só servem pra encher o saco.
O que mais me chamou a atenção foi o fato de que tudo isso foi com a voz embargada de ódio e uma fisionomia extremamente agressiva, um misto de ódio com soberba, de nariz em pé, inconformada com a situação que ela estava vivenciando, sem noção alguma das atitudes que ela estava tomando e o que é ainda pior, ela não estava segurando em lugar algum, logo ela que se sentia incomodada com aquela situação, estava incomodando caindo em cima de outras pessoas devido à ação da inércia e mantinha-se empinada, do alto de seu magnifico pedestal, banhado em ouro e adornado por rubis e diamantes que escondiam um interior podre e sem valor, totalmente sem conteúdo, inteligência e Educação.
Eu ao presenciar esta cena extremamente infeliz, fiquei ainda mais perplexo quando olhei para a fêmea em questão e notei que ela aparentava ter no máximo 20 anos, notei que ela pertence a uma faixa etária que dentro de poucos anos pode e deve ser responsável pelo país.
Eu sempre busquei aprender a todo instante, observador, desenvolvi e aprimorei o hábito de prestar atenção no comportamento humano do meio em que estou inserido e tenho aprendido muito com isso, mas ao presenciar esta cena, prossegui a jornada até o meu ambiente de trabalho refletindo sobre a questão.
Será que virá a existir uma luz no fim do túnel? Será que existindo luz, não será o trem que vem em nossa direção e dará o golpe de misericórdia?
Estamos presenciando um momento delicadíssimo, onde as pessoas não tomam nenhuma atitude que nos faça crer que iremos melhorar como povo, como sociedade, como civilização e o que mais me decepciona é que não se percebe, as coisas estão apenas acontecendo, assim sem controle, automaticamente e sem direção.
Não vemos melhora na educação, não vemos melhora na cultura, politica não irei nem perder o tempo de relacionar dentre os tópicos incorretos de nosso país, não vemos melhora nas pessoas, o povo, os responsáveis pelo desenvolvimento de todo o país, os motores da evolução da sociedade e não vemos melhoras.
O povo tem o país que merece, as pessoas estão cada vez mais superficiais, incutas e incrédulas, exigem seus direitos, mas não cumprem com seus deveres, não tem a ambição de melhorar e não fazem e nem tão pouco desejam fazer a sua parte.
O ocorrido no metrô é apenas uma das muitas situações incorretas do nosso povo, que infelizmente se tornou corriqueiro e cotidiano, não temos mais a valorização da moral e dos bons costumes, não temos mais valores e não temos olhos para toda essa “mudança” que ocorre silenciosa, traiçoeira e a passos largos e velozes.
Existem momentos que eu chego ao extremo de refletir e até desejar que os Maias estejam certos em suas previsões, pois vejo que estamos no mais espesso breu que pude vivenciar, a luz não aparece e o som das rodas de aço em atrito com os trilhos aumenta a cada instante e não sei se acredito que antes do amanhecer o breu é mais intenso ou que a luz que torço que apareça, será a do trem que dará o golpe de misericórdia.
Não é uma lamentação, não é um apelo, nem tão pouco uma revolta, mas sim um relato onde almejo que cause reflexões, bem como me causaram presenciando o que aqui foi relatado.
A esperança se esvai somente quando se deixa de acreditar em sua força!!!
CaeGomes